sábado, 14 de março de 2020

Quando amamos, um simples "adeus" passa a ser um grande desafio.




“A vida me ensinou a dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração”.                        (Charles Chaplin)

Ninguém escapa de pelo menos uma vez, passar por um momento de separação. Pode ser numa história de amor, ou mesmo numa situação familiar. Embora, muitos  valorizem as lágrimas dessa "mudança de endereço", outros julgam não ser necessário vida afora os espinhos deste pesar.
E quando enfim, descansamos os meus olhos das lágrimas que sufocam a nossa voz, vemos a necessidade de recriar nossos sonhos em imagens poéticas. É como se a poesia por um momento “tomasse” vida, apenas para ser vivida.

É um enigma que não podemos considerar, ante a imensidão dessa dor que nos inquieta, e que rompe uma realidade quase ilusória – o amor.

Verdade é que a nossa responsabilidade não é ponderar, e sim, viver esse amor. Mas o melhor mesmo é recitar depressa, mesmo com a voz abafada, Vinícius de Moraes, e não pensar nele (o amor):

“E possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama,

Mas que seja infinito enquanto dure.”

Não há caminhos que não mudam com o tempo. E que continuamente nos levam a diferentes modos de esperança; diferente de tudo, com a certeza de que ficam apenas lembranças, na ditadura da saudade que impera, mas sem mágoas, apenas um doce sonho que se converte em choro. Um sonho tão doce que mais parece um canto.

Temos medo. E o trânsito entre a razão e o cupido nos afasta do frescor de um riso brando. E nos leva ao suspiro venenoso de um único momento que mata sonhos. Mas quanto a mim, quando ecoa dentro do meu peito o gemido nostálgico de um menino arteiro, vem novamente a incerteza que encobre a minh’ alma, como um arbusto rasteiro e enxerido.

E que fim teria um sonho, se conhecêssemos o seu dano? E como vencer a resistência de um amor que ao coração parece enganar? Ou quem sabe, como Tomás Antônio Gonzaga, possamos refletir sobre uma invasão sem precedente, na qual, um coração, maior que o mundo, vai permanecer vazio.

“Eu tenho um coração maior que o mundo!

Tu, formosa Marília, bem o sabes:

Um coração..., e basta,

Onde tu mesma cabes.”

Mas novamente eu digo que conheço a minha ilusão. Uma ilusão descabida para tanto sofrimento, e alheia ao meu peito inerte. Eu conheço esse amor sem medidas, envolto nesta dor que até verte lágrimas. Mas que quando essa dor se arrasta, é aliviado com um beijo, um beijo único. Eu conheço esse vazio de um sonho que nasce e expira, entre o natural e o maravilhoso, e, que transforma um momento em uma lágrima harmoniosa.
E não esperamos soluços. Nem mesmo lágrimas que descrevam um medo que murmure perdas. Não queremos rumores de versos que denotem partida. Não queremos reações que lembrem, com suas canções tristes, um amor que não teve fim. Não queremos poesias que mostrem em cada estrofe, o temor de uma alma, meio morta, meio viva, mas sequiosa de um amor guerreiro.

E assim, ninguém assistirá ao formidável momento de um último riso. Quando no íntimo, o coração esconde seus doloridos fragmentos. Como um poema não lido, como um pássaro sem voo, como um sonho frustrado, como um espaço vazio, como um adeus que ecoa sem palavras.

Somos então levados a pensar na dificuldade de dizer um adeus nada corriqueiro. Mas na individualidade não sou calculista. A vida é fugaz, e às vezes, sem inspiração. Aliás, é muito difícil entender como um reencontro pode trazer um fim. E desculpe-me; posso estar atrasado em me libertar desse medo. Não tenho nenhum pensamento claro, pois a falta de um desejo futurista me emudece, por isso não posso sequer dizer adeus. Talvez possa fazê-lo por escrito, talvez aprenda a arte de moldar um poema para fazê-lo, mas sem repetição, sem um eco lírico, naturalmente. Mas no fundo, não quero dizer nada, apenas viver o que a minha meninice me oferece: um momento de volta ao passado, quando sem a família ia tomar banho no rio e esperava, ou um momento de silêncio. Ou um momento para que o silêncio fale por mim. Em cada ano vindouro. Falando e falando, sem mesmo dizer “estou aqui”.

Quando chegamos a uma conclusão de renovação, vemos diante de nós, sonhos que se confundem. Vemos imagens que caracterizam o sonho de um poeta, inicialmente composto por palavras que mostram o exagero do que talvez só eu senti. E precisei de tudo o que senti, até despir a minh’ alma a cada noite, observando a lua. Ou as rosas que florescem sem pudor. Mas valeu a pena.

Mas, dentre todas as superações, vemos que hoje são lágrimas, e, amanhã sorrisos sem cor. O que hoje está próximo, amanhã estará distante, e, de repente se faz um adeus. Depois de tudo, permanece o encanto e a canção. Mas como no cinema mudo, não se fala de amor. Ou como diz uma canção: “te amo, mas adeus”. Sabemos, entretanto, que eu estarei mudo, como se não houvesse amanhã. Sem a liberdade de um sussurro, apenas o silêncio. Um silêncio deixado para trás.


Jorge Amaral

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Sem medo, sem culpa.



No esconderijo da minh´alma,
Guardo surpresas para o teu coração.
E quando ouço a tua voz,
Sei que entendes o meu amor.
E gosto quando me chamas “teu”,
Quando me beijas com gula,
E quando dormimos com cumplicidade.
No recanto da minh´alma,
Guardo meu desejo por ti,
Que faz meus braços se abrirem,
Para te prender no meu deleite,
E gosto quando estás presente,
O tempo todo, sem medo,
E gosto de amar-te de tal modo,
Que nunca sintas vontade de respirar sem meu amor,
No secreto do meu corpo,
Unimo-nos, bem afinados,
E gosto quando sem culpa.
Dormimos extasiados.



Jorge Amaral

Contradições


Num instante me vejo perdido,
Noutro me encontro em teus braços,
Ora me sinto leve,
Ora me encho de ansiedade.
Há tempo de plenitude do meu ser,
Mas há tempo que excluo essa possibilidade.
Existem em mim, desejos inquestionáveis,
Comungando a fusão da graça e o encanto,
Se te vejo com visão ponderada,
Estás sob a ótica da beleza humana,
Mas se te quero com suas curvas sensuais.
Vem um egoísmo que esmaga minh' alma.
Assim interpreto teu sorriso,
Como um ato de sussurro ou voz inaudível,
Pois não pode haver medo,
Que a tua beldade não pare.
Afasto pois, de mim, todo olhar,
Para num momento, perder a razão,
Me encontrando apenas no teu olhar.
Em cada sonho, em cada estação,
Para então justificar cada gesto,
Como mulher que és. Pura poesia.

Jorge Amaral

sábado, 8 de julho de 2017

Particularidades



A chuva que cai lá fora,
Molha minh’ alma em silêncio
E o que antes era medo,
Tornara-se pura poesia.
E dado ao conflito do tempo,
Passado, presente e futuro.
O que temos além da imaginação?
Ou mesmo daquilo que teve início,
Mas que nunca tivera um fim.
E como nos julgar indignos,
De um amor tão merecido?
Ou nos deleitar ao certo,
Numa estranha corrente de sonhos,
Indetectáveis aos olhos teus.
Ou viveremos sem visão, sem horizontes,
Apenas abrindo caminho,
Para uma viagem no tempo,
Onde conhecemos o amor e sua doçura,
Na sua forma harmoniosa.
E breve como um soluço.
Até me acender a alma.


Jorge Amaral

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Enfim, a saudade...

Quando tudo se acabar,
E a dor, emfim, me torturar,
Sobrará apenas o sabor do beijo.
Ou o tormento da saudade e desejo.
Quem ouvirá o riso?
Sem o encanto de um sonho de amor?
Se mais nada restar do teu sorriso encantador?
E se os olhos se fecharem,
Sem que suponhas viver?
Sem que sejas feliz de verdade,
Ou por outro motivo, o deixes de ser?
Se acima de tudo,
O amor se perder,
Por simples vaidade,
Ou a vida se exvair,
Sem a tal felicidade.
Sem um retorno na vida,
Que cure qualquer ferida.
Mas sorria, apenas sorria.
Mesmo com o coração cortado.
Se nos meus olhos,
Uma lágrima vier,
Como único resultado,
De um amor, que não demonstrei,
Mas que continuei vivendo,
Até o momento.
Que me servirá de choro...
Porque só amar vale a pena,
Ainda que nesse amor,
Eu descubra apenas um sorriso teu.



Jorge Amaral

domingo, 18 de dezembro de 2016

Perdição preferida

Como eras nos sonhos,
Chegaste ao meu coração.
Tecida de cores,
E cheia de amores.
Teu corpo,
Teu ser,
Como gotas de mel,
Me inspira poesias.
E os sentidos,
Que dão fôlego à vida,
Me deixam sem som.
Minha voz de cala,
Minha visão se perde,
E meu rumo,
Já não sei.
E a vida,
Que de luz se provê,
Linda como ela é,
Menina. moça, mulher.
Com passado, meio presente,
E um futuro ausente,
Faço da vida,
Que bela é,
Um ideal a alcançar,
No balanço ao luar,
Quando o céu quero tocar,
E viver, sonhar e amar.



Jorge Amaral

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Eu acredito



Eu acredito!
Acredito que o amor,
Seja mais que abstrato,
Acredito que o amor,
Seja notável e palpável.
Acredito que o amor,
Seja visível e consumidor,
Que seja feito de detalhes,
Dotado de intimidade.
Acredito que o amor,
Seja o toque da perfeição,
Seja a vida,
A vida do coração.
Acredito que o amor,
Sobreponha à razão.
Eu acredito que o amor,
Seja a escolha certa,
Que seja você, que seja eu,
Que sejamos nós.


Jorge Amaral